Ego.

Publicado em 25/10/2025 às 00:02:45 por Adelson Teodoro

Afinal, o que é o ego?



Esta semana aconteceu algo que me deixou profundamente triste. Um Grão-Mestre que eu acompanhava em lives (streamings) — principalmente na época da pandemia (2019–2021) — faleceu. Ele sofria com depressão há algum tempo. A causa da morte não foi divulgada, mas tudo indica que sua passagem teve relação com o agravamento da doença. Foi isso que me levou a abordar este assunto com tanta ênfase.



Não sou psicólogo, tampouco especialista em comportamento humano. Sou um mero programador. Não entendo de redes neurais biológicas (analógicas); compreendo redes neurais artificiais e como nossos vieses são fundamentais para o resultado de nossas inferências — ponto onde há convergências. Afinal, nossas opiniões, quando externalizadas, tornam-se ações,
e essas ações geram resultados — positivos ou negativos.



As comparações entre neurônios artificiais e biológicos se encerram aqui. Seria tolice insistir em comparar um ser humano com uma máquina para além da abstração do bias — neurônio e perceptron, córtex e rede neural convolucional.



Até onde vai o ego?



O xadrez é um jogo mental — uma verdadeira batalha da mente. Desde sua origem, teve papel importante, principalmente entre as classes mais altas. Afinal, ser um jogador — quiçá um bom jogador — sempre foi sinônimo de erudição. A Guerra Fria que o diga: EUA vs. URSS, Bobby vs. Spassky. O jogo evoluiu, e o homem deixou de ser o melhor jogador de xadrez do mundo. Tudo começou em 1997, quando uma atualização do computador Deep Blue, da IBM, venceu o então campeão mundial Garry Kasparov — foi a primeira vez que uma máquina derrotou um jogador desse nível. Desde então, as chess engines evoluíram com diferentes abordagens — da força bruta ao deep learning com redes neurais profundas. Assim, humanos com enorme capacidade de memorização e cálculo foram superados por supercomputadores.



Os jogadores de xadrez de alto nível são, definitivamente, gênios.Cerca de duas pessoas a cada dez milhões conseguem tornar-se Grão-Mestres. Eles possuem inteligência espacial e memória muito acima da média. Todavia, isso não os impede de duvidar das capacidades de outro Grão-Mestre, mesmo estando em níveis semelhantes de jogo. Tolice? Não. Ego.



Acusações de trapaça, principalmente em torneios online, tornaram-sae corriqueiras — muitas delas proferidas por ex-campeões mundiais de um passado recente. Ora, só uma máquina consegue vencer um ex-campeão mundial? Claro que não. O xadrez já provou muitas vezes não ser apenas um jogo onde o melhor vence. Lasker, o homem que mais tempo manteve o título mundial, usava abordagens psicológicas, escolhendo jogadas teoricamente inferiores para levar o adversário a uma floresta escura onde 2 + 2 é 5 e só um pode sair — como disse o grande Mikhail Tal.

Essas acusações agravaram a saúde mental de Danya, um jovem talentoso que via o xadrez não apenas como trabalho, mas como paixão. Viu anos de estudo, normas e títulos serem postos em xeque, sendo obrigado a se provar mesmo sendo um dos melhores jogadores do mundo.



O complexo de superioridade faz com que alguém esqueça de ser empático com o próximo, de se importar com as consequências da externalização de seus vieses. Pode ferir mortalmente o sentimento alheio e causar perdas imensuráveis. O ego é um dos alimentos da superbia, o orgulho — o pecado capital original, o mesmo que fez o amaldiçoado cair.



“I like the moment when I break a man's ego.”

— Bobby Fischer



Destruir o ego de um homem pode ser interessante, principalmente se esse homem for você mesmo.

Descanse em paz, Danya. </3



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